Eleições confirmaram possibilidade de reforço do PCP e da alternativa

Temos Partido para a luta<br>e saída para a crise

Hugo Janeiro

Na pri­meira ini­ci­a­tiva pú­blica após as elei­ções au­tár­quicas, no Seixal, Je­ró­nimo de Sousa partiu dos re­sul­tados al­can­çados pela CDU, a «força que ali­mentou a es­pe­rança» numa «ba­talha contra a cor­rente», para re­alçar as reais po­ten­ci­a­li­dades de re­forço do Par­tido e de con­quista de am­plas massas po­pu­lares para a cons­trução da al­ter­na­tiva capaz de con­cre­tizar uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda.

Um PCP mais forte é de­ter­mi­nante para o com­bate que hoje se trava

In­ter­vindo na aber­tura e no en­cer­ra­mento de uma sessão pú­blica, sá­bado à tarde, na qual to­maram a pa­lavra cerca de uma de­zena de ca­ma­radas – cujo cerne dos dis­cursos foram a crí­tica à po­lí­tica das troikas e a con­fi­ança na ca­pa­ci­dade trans­for­ma­dora do co­lec­tivo par­ti­dário, o Se­cre­tário-geral do PCP notou que a re­cu­pe­ração de im­por­tantes po­si­ções au­tár­quicas pelos co­mu­nistas e seus ali­ados mostra que «nada está per­dido para todo o sempre».

Mas, ad­vertiu, apesar dos avanços al­can­çados, «não estão re­sol­vidos os pro­blemas com que se con­frontam os tra­ba­lha­dores, o povo e o País». Por isso «não po­demos des­cansar», disse, ape­lando à re­a­li­zação de «um es­forço ime­diato» para, mo­bi­li­zando «a partir das em­presas e lo­cais de tra­balho, e con­tac­tando com a po­pu­lação», res­ponder às exi­gên­cias da si­tu­ação ac­tual, já no pró­ximo dia 19 de Ou­tubro, nas ma­ni­fes­ta­ções con­vo­cadas pela CGTP-IN em Lisboa e Porto.

«Não po­demos aceitar a po­sição opor­tu­nista do “quanto pior me­lhor”. O com­bate é para hoje» e é agora que «temos que con­ti­nuar a fazer frente a este Go­verno», es­tando nas nossas mãos «im­pedir que dure até 2015», sa­li­entou em claras re­fe­rên­cias ao PS, que, acusou, «es­pera que o poder lhe caia no re­gaço sem nada fazer para der­rotar e der­rubar» o exe­cu­tivo PSD/​CDS.

Luta que tem agora me­lhores con­di­ções de se de­sen­volver a partir dos mu­ni­cí­pios e fre­gue­sias onde o PCP-PEV é mai­o­ri­tário, pesem as di­fi­cul­dades co­lo­cadas por esta po­lí­tica ao Poder Local De­mo­crá­tico e aos seus tra­ba­lha­dores, cons­taram na ini­ci­a­tiva Je­ró­nimo de Sousa e Jo­a­quim Santos, eleito pre­si­dente da Câ­mara Mu­ni­cipal do Seixal. Acção rei­vin­di­ca­tiva e de con­tes­tação à ofen­siva an­ti­la­boral, in­sistiu, por seu lado, o Se­cre­tário-geral do PCP, que ga­rantiu im­por­tantes vi­tó­rias nas urnas e impôs der­rotas po­lí­ticas ao Go­verno, à mai­oria e ao Pre­si­dente da Re­pú­blica que o sus­tenta, caso do chumbo pelo Tri­bunal Cons­ti­tu­ci­onal das al­te­ra­ções ao Có­digo do Tra­balho, exem­pli­ficou.

Re­forçar o PCP

 

«Estas elei­ções também de­mons­traram as am­plas pos­si­bi­li­dades de re­crutar mais gente para o nosso par­tido», con­si­derou o di­ri­gente co­mu­nista. «Ho­mens, mu­lheres e jo­vens que de­mons­traram [no voto e na in­te­gração da cam­panha da CDU] tanta dis­po­ni­bi­li­dade», e que é pre­ciso abordar, trans­mi­tindo-lhes que «estão bem aqui no Par­tido», su­bli­nhou.

O re­forço do Par­tido foi, aliás, o úl­timo des­taque feito por Je­ró­nimo de Sousa nas suas in­ter­ven­ções. «Mas po­deria ter sido o pri­meiro», pois essa «é uma questão cen­tral tendo em conta a du­reza do com­bate que aí vem», no qual vai ser ne­ces­sário «este Par­tido que não so­çobra» na de­fesa «dos in­te­resses e di­reitos dos tra­ba­lha­dores e do povo, e da pró­pria de­mo­cracia».

Um PCP mais forte «para lutar por esse pro­jecto de trans­for­mação so­cial ins­pi­rado nos va­lores de Abril», afirmou já de­pois de ter con­cluído, a pro­pó­sito do si­len­ci­a­mento dos re­sul­tados elei­to­rais ob­tidos pelo PCP e pelos seus ali­ados na co­mu­ni­cação so­cial, que «é bom que saibam que, ao con­trário das suas as­pi­ra­ções, este PCP vai ter mais vida do que as suas pró­prias vidas».

 

Afirmar a al­ter­na­tiva

A grande ta­refa do mo­mento é a afir­mação da po­lí­tica al­ter­na­tiva e a cons­trução da al­ter­na­tiva po­lí­tica num «pro­cesso que exige a con­ver­gência dos de­mo­cratas e dos pa­tri­otas», sa­li­entou Je­ró­nimo de Sousa. Aí re­side a saída da ac­tual si­tu­ação de crise eco­nó­mica e so­cial para a qual o povo e o País foram ar­ras­tados pelos subs­cri­tores do pacto de agressão.

«Do­cu­mento que não é ge­né­rico», que tem «ori­en­ta­ções, me­didas e prazos» e «con­subs­tancia dois ob­jec­tivos fun­da­men­tais: au­mentar a ex­plo­ração sobre o tra­balho e em­po­brecer o Por­tugal e os por­tu­gueses», e mul­ti­plicar «os lu­cros e os di­vi­dendos de quem manda, do grande ca­pital fi­nan­ceiro».

O exe­cu­tivo li­de­rado por Passos Co­elho é «um mero exe­cu­tante» dessa po­lí­tica que também vin­cula o PS, par­tido que não só não re­jeita o pacto de agressão, como tem ainda a sua as­si­na­tura no Tra­tado Or­ça­mental im­posto pela UE, con­cor­dando com a con­tracção do dé­fice «a mata ca­valos» para três por cento do PIB.

Por muito que pro­cure manter «uma no papo e outra no saco», o PS está «en­ro­lado numa con­tra­dição» que lhe re­tira au­to­ri­dade para juízos crí­ticos sobre a po­lí­tica apli­cada pelo Go­verno PSD/​CDS com «uma de­ter­mi­nação muito grande».

Po­lí­tica que «os por­tu­gueses já viram que não dá», e cujo re­sul­tado de­vas­tador está à vista: re­cessão eco­nó­mica, de­sem­prego só com­pa­rável aos tempos do fas­cismo, emi­gração for­çada, so­bre­tudo dos jo­vens, roubo nos di­reitos, sa­lá­rios, re­formas e pen­sões, ataque e des­truição dos ser­viços pú­blicos, e que de­verá ser agra­vada com a pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado para 2014.

«Mais cortes na Saúde, Edu­cação e na pro­tecção so­cial em caso de do­ença ou de­sem­prego; des­pe­di­mento de mi­lhares de tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, con­ge­la­mento de sa­lá­rios no pú­blico e no pri­vado», de­ta­lhou o Se­cre­tário-geral do PCP, ao que acresce «a cri­mi­nosa pri­va­ti­zação da TAP, da ANA ou dos CTT» que vai en­tregar «pa­tri­mónio pú­blico em­pre­sa­rial que de­veria fun­ci­onar como ala­vanca para sair da si­tu­ação em que nos en­con­tramos».

«Não é a pedir mais di­nheiro em­pres­tado que re­sol­vemos o pro­blema», sin­te­tizou Je­ró­nimo de Sousa, para quem, face à con­ti­nui­dade de uma po­lí­tica cujo «único pro­pó­sito é servir o grande ca­pital» - e que, para mais, não re­solveu ne­nhum dos dois pro­blemas a que se propôs, o da dí­vida e do dé­fice, e, pelo con­trário, agravou ambos –, im­põem-se «fazer ir­ra­diar as nossas pro­postas de uma Po­lí­tica Pa­trió­tica e de Es­querda».

A con­cre­ti­zação de uma tal po­lí­tica, pre­cisou, tem como con­di­ções fun­da­men­tais a re­jeição do pacto de agressão e a der­rota da po­lí­tica de di­reita, a re­ne­go­ci­ação da dí­vida nos prazos mon­tantes e juros, o au­mento da pro­dução e apro­vei­ta­mento dos re­cursos e po­ten­ci­a­li­dades na­ci­o­nais, a de­vo­lução aos tra­ba­lha­dores e aos re­for­mados de tudo o que lhes foi rou­bado, a va­lo­ri­zação dos ser­viços pú­blicos e a de­fesa da in­de­pen­dência e so­be­rania na­ci­o­nais.

 



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Marcha nas pontes por Abril

Para sá­bado, 19 de Ou­tubro, a CGTP-IN con­vocou uma grande acção de luta, de âm­bito na­ci­onal, «pelo em­prego com di­reitos e o au­mento dos sa­lá­rios, pela de­fesa das fun­ções so­ciais do Es­tado e a me­lhoria dos ser­viços pú­blicos, pelo au­mento da pro­dução e cri­ação de ri­queza, pela de­missão do Go­verno e con­vo­cação de elei­ções an­te­ci­padas, de­vol­vendo ao povo o poder de de­cidir sobre o seu pre­sente e fu­turo, vi­a­bi­li­zando uma po­lí­tica al­ter­na­tiva que va­lo­rize o tra­balho e dig­ni­fique os tra­ba­lha­dores, uma po­lí­tica de es­querda e so­be­rana, rumo a um Por­tugal so­li­dário e de pro­gresso».